sábado, 28 de março de 2009

Sêneca

Lucius Annaeus Sêneca (4 a.C - 65 d.C.) nasceu em Córdoba, Espanha. Filho de Annaeus Sêneca, conhecido como Sêneca, o velho, que teve renome como retórico e do qual restou apenas uma obra escrita, intitulada Declamações. Sêneca (filho) foi educado em Roma, onde estudou a retórica ligada à filosofia. Em pouco tempo tornou-se famoso como advogado e ascendeu politicamente, passando a ser membro do senado romano e depois nomeado questor. O triunfo político não se fazia sem conflitos e o renome de Sêneca suscitou a inveja do imperador Calígula, que pretendeu desfazer-se dele pelo assassinato. Contudo Sêneca foi salvo e, o próprio Calígula, veio falecer antes. Sêneca pôde continuar vivendo em relativa tranqüilidade, mas esta não dura muito tempo. Em 41 d.C. foi desterrado para a Córsega, sob a acusação de adultério, supostamente com Júlia Livila, sobrinha do novo imperador Cláudio César Germânico. Na Córsega, Sêneca passaria quase dez anos em grande privação material. Em 49 d.C., Messalina, primeira esposa do imperador Cláudio e responsável pelo exílio de Sêneca, foi condenada à morte. O imperador Cláudio casa-se então, com Agripina. Pouco tempo depois, Agripina manda chamar Sêneca para que este cuidasse da educação de seu filho Nero. Em 54 d.C., quando Nero se torna imperador, Sêneca passa a ser seu principal conselheiro. Esse período estende-se até 62, quando Sêneca deixa a vida pública e sofre a perseguição de Nero, que acaba por condená-lo ao suicídio. Não foi a lógica dos estóicos gregos, nem mesmo sua teoria do mundo físico, que atraiu o interesse dos estóicos romanos. Foi, antes, sua moral da resignação, sobretudo nos aspectos religiosos que ela permitia desenvolver. Sêneca foi o primeiro representante do estoicismo romano. O Pórtico, (a escola estóica recebeu o nome de Pórtico, devido ao fato de que Zenão de Cício ministrar aulas a seus discípulos sob a colunata em Atenas, conhecida por esse nome). Já com Panécio e Possidônio tinha aberto as portas à verdade e aos dogmas de outras escolas e, foi ainda mais sensível com Sêneca às instâncias ecléticas. O filósofo romano reafirmou a sua liberdade espiritual diante dos dogmas da escola. Dizem que Sêneca não é um eclético, porque essa sua liberdade característica enraiza-se num sentimento autenticamente estóico. Dizem, que as conclusões às quais Sêneca chegava eram, na sua maioria, alcançadas intuitivamente, sem que ele soubesse elaborar categorias teoréticas adequadas, para substituir as elaboradas pelos antigos estóicos. Sêneca é certamente um dos expoentes do Pórtico no qual são mais evidentes as oscilações a respeito do pensamento sobre Deus. Todavia, o ponto no qual a especulação de Sêneca é mais original está na psicologia, na sondagem das vozes interiores da alma humana e na capacidade de captar e interpretar o sentimento interior de divino. Em sua carta 41, escreve Sêneca: "Não se trata de levantar as mãos para o céu ou de pedir ao guardião do templo que nos permita aproximar-nos dos ouvidos dos simulacros, de modo que possamos assim ser melhor escutados. Deus te é próximo, está contigo, dentro de ti (...)". Podemos perceber que o Deus de Sêneca tem pouco em comum com os traços do Deus Pneuma dos antigos estóicos. Assim como Deus, outros são os temas tratados por Sêneca. As Cartas Morais de Sêneca, escritas entre os anos 63 e 65 e dirigidas a Lucílio, misturam elementos epicuristas com idéias estóicas e contêm observações pessoais, reflexões sobre a literatura e crítica satírica dos vícios comuns na época. Entre os seus doze Ensaios Morais, destacam-se: Sobre a Clemência, cautelosa advertência a Nero sobre os perigos da tirania; da Brevidade da Vida, análise das frivolidades nas sociedades corruptas, e Sobre a Tranqüilidade da Alma, que tem como assunto o problema da participação na vida pública; as Questões Naturais expõem a física estóica enquanto vinculada aos problemas éticos. Além dessas obras propriamente filosóficas, Sêneca escreveu ainda nove tragédias e uma obra-prima da sátira latina, Apolokocintosis, que ridiculariza Nero e suas pretensões à divindade. Todas essas obras, dizem os estudiosos, revelam que Sêneca foi, sobretudo, um moralista. A filosofia é para ele uma arte da ação humana, uma medicina dos males da alma e uma pedagogia que forma os homens para o exercício da virtude. O centro da reflexão filosófica para Sêneca, deve ser, portanto, a ética; a física e a lógica devem ser consideradas como seus prelúdios.

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