terça-feira, 23 de junho de 2009

As cores Fauvistas contra as naturezas mortas Impressionistas.

(Maurice de Vlaminck - Restaurant)

O outro lado do Renascimento: O Maneirismo

(El Greco - O enterro de São Orgaz)

A originalidade do Surrealismo da perspectiva de um espanhol

(Joan Miró - Jardín)

A ponte do Impressionismo para o Cubismo.

(Paul Cézanne - Bord Route)

sábado, 20 de junho de 2009

Porque convencer Paulino? - Sêneca e seus argumentos em Sobre a Brevidade da Vida.

Autor: Fernando Luiz Duarte Junior - UECE
E-mail: fe_fri@hotmail.com
Orientador: Debora Klippel Fofano
Segundo William Li, tradutor de Sobre a Brevidade da Vida do autor romano Sêneca, esta obra trata-se de uma exhortatio ad philosophiam (exortação à filosofia), trata-se de uma tentativa de convencer, através de argumentos simples, a alguém. Em todo conjunto desta obra, Sêneca utiliza-se de elementos sempre próximos ao destinatário (que neste caso é Paulino) para convencê-lo que a vida deve ser vivida de uma maneira específica, a qual Sêneca aponta durante todo o texto. O contrário dessa vida demonstrada por Sêneca não seria uma vida bem vivida, e é para isso que ele empreende tal tentativa de convencimento de Paulino, para uma vida que de fato seria bem vivida, e não deixando de lado a sua exaltação do estudo da filosofia. O ócio, a verdadeira felicidade, e as questões morais, que são marcas do estoicismo, não estão de forma culminante nesta obra de Sêneca, mas são elementos ressaltados no empreendimento que visa o fim do convencimento de Paulino, e neste breve trabalho se ressaltará alguns dos argumentos do filósofo para essa boa vida à qual ele indica ao seu destinatário.
PALAVRASCHAVES: NATUREZA. VIDA CONTEMPLATIVA. FELICIDADE. SÊNECA.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Quanto tempo tem o tempo? A idéia agostiniana do tempo a partir da consciência de si


Marco Antonio Separavich[1]

A curiosidade do homem com o tempo é tão antiga que se perde em tempos imemoriais da história da humanidade.
Do deus grego Cronos, senhor que governa o tempo, às múltiplas dimensões temporais apresentadas pela física quântica contemporânea, o tempo e a idéia que dele fazemos sempre esteve presente na vida humana, ora os homens fazendo dele um aliado, ora um algoz.
Hoje a internet nos traz o que acontece no mundo em tempo real, e mesmo sem se questionar acerca da realidade do tempo na virtualidade cibernética, tem-se a impressão de que o factual se escoa com os minutos, que o tempo, enfim, não pára, aliás, mais do que nunca percebe-se a sua aceleração.
Ao pensar no conceito de tempo na História da Filosofia, não se pode deixar de mencionar Agostinho de Hipona, o santo, como o primeiro pensador a relacionar a realidade exterior à interioridade humana, concebendo o tempo como dimensão vivida. Mas, o que é o tempo? Pergunta Agostinho em suas Confissões (11, 14, 17).
A pergunta agostiniana parte da premissa da distinção entre a eternidade e o tempo, entre o Eterno, sempre igual a si mesmo, e o temporal, sujeito à necessidade e à contingência.
Agostinho associa a idéia do tempo à memória, tal como faz a tradição filosófica de sua época.
Já em Confissões (10, 8, 12-14), ele havia definido a memória como “um vasto palácio [em que] está escondido tudo o que pensamos ...”, mas também tudo o que traz os sentidos, as sensações e os sentimentos vividos. Apesar de dizer nesta obra que a memória “lembra-se de lembrar”, é em De Trinitate (14, 7, 9) que define de forma minuciosa a memória de si, concebendo-a como presença e não consciência que a mens traz de si mesma.
Pode-se inferir, a partir das observações que nos dá Agostinho, que o tempo passa a ter sentido a partir da consciência de si (verbo), pois, se na memória a dimensão temporal existe de forma difusa, os tempos presente, passado e futuro são assim significados quando o verbo os identifica como tais. Essa identificação se dá pelo movimento da mens de se reconhecer como instância que se lembra, que se pensa e que se ama. A noção do tempo, portanto, encontra-se intimamente ligada à consciência de si.
Essa é a condição sine qua non para o processo do conhecimento, porque tal como concebido pelos platônicos e neoplatônicos, Agostinho atribui ao autoconhecimento o princípio do conhecimento.
A idéia do tempo, então, pode ser dimensionada dentro do suceder de instantes presentes, com a mens se distendendo e reconhecendo-se a si mesma; logo em seguida, no entanto, a memória guarda o presente vivido da mens em seu interior, e esse passa a ser lembrança.
É nesse átimo de tempo que se pode vislumbrar temporalmente, de forma tímida e imperfeita, o que seja a eternidade, nesse “eterno presente”, ou melhor, como diz Agostinho,

“é impróprio afirmar que os tempos são três: passado, presente e futuro. Mas talvez fosse próprio dizer: os tempos são três: o presente das coisas passadas (...), o presente das presentes (...) e o presente das futuras (...). Existem, pois, três tempos na minha mente que não vejo em outra parte: lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras”(Confissões, 11, 20, 26).

Encontramos aqui o entendimento agostiniano trinitário do tempo como lembrança, visão e esperança.
A lembrança diz respeito à memória; a visão (exterior e interior) refere-se à inteligência; a esperança evoca caritas e a fé naquilo que, por ora, está oculto ao intelecto.
Tanto na lembrança, na visão como na esperança, o olhar da alma está iluminado pela luz do pensamento, o que significa dizer que a partir do cogitatio a consciência empreende os processos de cognição do tempo, tornando presente o passado vivido, e projetando o futuro no presente a ser vivido.
Embora Agostinho apresente a memória aprioristicamente, e mesmo estando presente a idéia de tempo na memória, tal idéia não é uma categoria imediata apresentada à consciência, mas é mediada pelo cogitatio. Essa é uma das razões pela qual a noção de tempo deve ser entendida social e culturalmente, pois, por ser mediada, ela se abre para as diferentes interpretações sociais e culturais que os homens dão ao tempo na história.
A noção de tempo partindo da consciência de si agostiniana é fluída, porque nada há de concreto que marque o próprio tempo, a não ser o relógio, e a codificação das horas que, em última análise, implica no cogitatio, pressupondo a consciência de si. Em outras palavras, o tempo dimensionado pela mens é o tempo vivido pelo eu.
_________________________
Notas:
[1] Cientista Social e Pós-Graduando pela Universidade Estadual de Campinas.

Referências:
AGOSTINHO, Confissões , Coleção Os Pensadores, São Paulo, Abril Cultural, 1973.
AGOSTINHO, A Trindade, São Paulo, Paulus, 2001.
NORBERT ELIAS, Sobre o tempo, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998.

sábado, 6 de junho de 2009

A CONCEPÇÃO DE HISTÓRIA EM HEGEL

Autora: Marister Magalhães Frota Prado
Instituição – UECE
E-mail – maristerprado@gemail.com

Com base na obra “Filosofia da História”, que é senão Lições sobre a Filosofia da história, Hegel demonstra que a história é o campo onde o espírito absoluto se realiza plenamente livre. O autor segue criteriosamente uma metodologia cujo fio condutor é movimento dialético, de modo que o enfoque conceitual é claramente definido; tornando-se assim, a dialética o roteiro imanente do conteúdo do seu trabalho. No método dialético há dois momentos constitutivos: o Formal e o Teleológico. O Formal apresenta a Universalidade, a particularidade e a singularidade; com a universalidade está a pressuposição de que a história é expressa no seu sentido Universal que vai articular o curso histórico da liberdade; na particularidade os indivíduos vão exprimir o seu conteúdo particular, negando a universalidade, mas introduzindo a determinação de que o desenvolvimento histórico não é tão majestoso como se pensa, pelo contrario, é sacrificial e doloroso. A História também tem seus horrores. Quanto a Singularidade, restitui o particular ao universal de modo que o universal já não é mais o indivíduo empírico e sim o indivíduo histórico que representará o Espírito do mundo. No aspecto Teleológico o autor afirma que a história tem um sentido, um fim, ou seja, uma finalidade. Segundo ele, a história não está entregue a um destino cego, ou entregue ao acaso, pelo contrário há uma Razão regendo todo seu transcurso. A Razão está presente para decifrar o sentido do desenrolar do curso histórico, sentido esse que ganha caráter de verdade da própria história que nela e por ela é manifesto. O mundo está sob o domínio e o governo da Razão. O autor considerou três maneiras de se pensar a História: História original – esta dá ênfase ao fato sensível da imediatidade dos acontecimentos. Os historiadores faziam uso dos relatórios de outros, como os mitos e canções e eles se identificavam com as obras, pois faziam parte dela. Esse tipo de história tem conexão com o presente e era transmitida de maneira plástica, isto é, para a posteridade; o historiador é o elo ou mediador entre o passado e as gerações posteriores. História Refletida (podendo ser considerada em Universal, Crítica, Pragmática e Parcial; também chamada de Especial por considerar a espécie da história como: história da arte, da religião, etc..) História Refletiva Universal – Ela tem como exigência a visão total de um povo. O historiador elabora o material histórico até onde ele pode chegar com o seu espírito. Ele aborta o conteúdo, o significado das ações e acontecimentos se utilizando de um método ao escrever. Assim, ele abandona a pretensão individual e se preocupa em abstrair o sentido dos acontecimentos. Esse tipo de história tem ligação com a História Original. História refletida Pragmática – o passado é tratado como um mundo remoto. Os acontecimentos históricos são diversos, mas a essência e o contexto formam uma única peca. O passado é anulado e os acontecimentos se tornam reflexões para o presente de modo a ressaltar o ensino moral obtido pela história, pois essa é a sua finalidade, o que para Hegel esse tipo de história é totalmente inválido, pois as épocas são distintas e o passado não oferece lições para o presente. História Refletida Crítica – esse tipo de história é um julgamento das narrativas e a constatação da sua confiabilidade. O autor mostra uma destreza em extrair algo das obras mais do que os acontecimentos em si, o que para Hegel era o tipo de história tratada pelo historiador alemão, todavia para ele eram os franceses quem melhor elaboravam esse tipo de história.História Refletida Parcial – Ela se utiliza das abstrações, é sucinta ao adotar pontos de vistas universais, estabelece a transição para a história filosófica, ela tem relação com o conjunto histórico de um povo, pois ela trata de sua arte, seu direito, sua religião, filosofia. Esse tipo de história Hegel se identificou muito bem. Finalmente, História Filosófica – ela compreende e reflete os momentos que estão sendo realizados de acordo com a realidade. Esses conteúdos da realidade são esclarecidos e justificados. Ela pode ser definida como a contemplação ponderada da história ou a sua observação refletida. Ela dá suporte para produzir o pensamento sem considerar o que existe na realidade. Ela é livre. Quando ela aborda a história amolda-a ao seu próprio pensamento. Ela contempla a história com a idéia de que a razão governa o mundo e vai discutir as diversas formas históricas de um povo que para Hegel foi o portador da idéia do progresso da liberdade na história. Hegel distinguiu os períodos históricos assim: com os Orientais está o embrião da Liberdade – alguém era livre. Com os Gregos nasce a consciência de liberdade – alguém era livre. Com os Romanos está a representação da universalidade abstrata, e como os Germânicos, sob a influência cristã a idéia de que todos são livres. Eis então de a história ser um “Teodicéia”, ela é a justificativa de Deus como providência que age e opera nela. A exposição histórica dos povos através da Filosofia da história, não discute (como Hegel o faz na Filosofia do Direito) a idéia do Estado, ela discute as diversas formas históricas como a Liberdade se desenvolveu. E o esquema bem conhecido é distinguindo em três períodos históricos: o mundo Oriental, o mundo Grego, Romano, e o mundo Germano-cristão. Primeiramente Hegel apresenta a pré-história da Liberdade através da representação religiosa do homem no paraíso. Adão, a quem ele considerou como indivíduo universal, nele a liberdade teve sua representação primitiva ou embrionária. Imagina-se que a natureza tenha assumido no início, perante os olhos humanos o papel de claro espelho da criação divina, revelando-lhe de maneira nítida e transparente verdade divina da liberdade. Quando o autor expõe as o desenvolvimento da Liberdade através dos povos, utiliza-se de uma linguagem metafórica usando as etapas da idade humana como: infância, puberdade, juventude, fase adulta e velhice comparando-as com os períodos do dia: manha, tarde, entardecer e noite. A liberdade nasce no Oriente, lá é o começo de tudo; é o momento infantil onde a imaturidade impera; é um estado onde não há consciência. Por ser manhã, alvorecer, o sol causa apenas um momento de contemplação e subordinação interior. Esse é o momento da imediatidade. A História progride para a Ásia Central, sem relação com a fase anterior, apenas com manifestações exteriormente; é o momento da puberdade, que não demonstra mais tranqüilidade como a clama de uma criança. Esse momento é fase de turbulência. Prossegue mais um pouco, é o momento da juventude, é tarde. A representação deste momento de ação exterior onde se busca a maturidade da liberdade está com o mundo Grego. Nele as individualidades se formaram. A moralidade objetiva se imprimiu na individualidade, denotando o livre querer dos indivíduos. Nele também se encontra a união moral e da vontade subjetiva que é o reino da “Bela Liberdade”. Este reino é harmônico, floresce com graça, mas por ser fugidio logo desaparece. Ainda não é moralidade subjetiva é apenas objetiva. Na fase adulta se tem toda ação, força e responsabilidade; é o entardecer; neste momento se constrói com responsabilidade. É a idade viril sendo representada pelo Império Romano, que apresenta o reino da universalidade abstrata, pois o varão não depende do senhor, nem do capricho individual da beleza, mas estar a serviço de um fim universal. Neste momento o Estado está começando a se destacar abstratamente e a se constituir um fim onde também os indivíduos têm a sua participação. É o momento da subjetividade. Há um “sentir-se mal” com o despotismo, o espírito recalcado vai até as mais íntimas profundezas do ser, abandona o mundo sem deuses e busca nele mesmo a conciliação na vida interior, plena e concreta que só nela há substancialidade e não dica unicamente na existência exterior, produzindo-se interiormente entra na conciliação com o espiritual. Agora se faz noite, é o momento da evolução e subordinação. Então se apresenta o mundo Germânico; é o momento da velhice. A velhice natural é fraca, mas a velhice do espírito é perfeita maturidade e força. Neste momento se encontra a união absoluta da consciência, moralidade objetiva e moralidade subjetiva. É o retorno à unidade consigo em seu caráter totalmente desenvolvido como Espírito. Esse período da conciliação é realizado pelo cristianismo na expressão da reforma protestante. O Estado não é mais inferior à Igreja, nem lhe é subordinado; a Igreja por sua vez não é estranha ao Estado, porque o espiritual não lhe é desconhecido. Os Orientais souberam apenas que alguém é livre. Os Gregos e Romanos souberam que somente alguns são livres e os Germânicos sob a influência do cristianismo, todos são livres. A Liberdade encontrou seu instrumento para se realizar conceitualmente bem como sua verdade – a História Universal que em seu conceito é “a marcha gradual da evolução da consciência do Espírito no tocante à sua liberdade e a realização efetiva de tal consciência”. (HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich.A Razão na História. Ed. Morais, 1990 p.60).