sábado, 28 de março de 2009

Michel de Montaigne

Michel Eyquem de Montaigne nasceu no dia 28 de fevereiro de 1533 e faleceu no dia 13 de setembro de 1592, em Périgord na França, provinha de uma família rica de comerciantes que crescera através do processo de ascensão da burguesia. O período vivido por Montaigne era uma época conturbada, onde os feudos estavam caindo e dando lugar aos burgueses. Sem deixar de comentar sobre as questões religiosas, que o homem deixa o teocentrismo e passa a ver o antropocentrismo. Questões estas muito abordadas por Montaigne, tanto as religiosas que ele colocava como algo cultural quanto à do homem, na qual ele atribuía às paixões algo normal, ou seja, que concerne ao homem.


Montaigne teve uma educação muito rígida e aos seis anos foi mandado para o colégio de Guyenne, em Bordeaux, lugar onde teve suas primeiras influencias que foram a de dois grandes humanistas da época, os professores George Buchanan e M.A. de Muret.


Em 1554 formou-se em direito e em 1557 ele conhece quem se tornaria seu grande amigo Étienne de La Boétie, amizade sobre a qual escrevera muitas páginas. Mas em 1563 seu amigo faleceu assim Montaigne tornou-se extremamente melancólico e recolheu-se à torre do castelo de sua família, na qual traduziu a “Teologia Natural” do espanhol Raymond Sebond, editou os “Opúsculos” do seu amigo Étienne de La Boétie e escreveu os “Ensaios”, o livro I e o começo do livro II, que é uma obra totalmente inovadora, pois Montaigne escreve sem regras ou metodologia, com seu modo de escrever simples ele utiliza-se de casos muitas vezes do seu próprio cotidiano.


Em 1565 casa-se aos 32 anos com Françoise de La Chassaigne filha de um conselheiro do parlamento de Bordeaux. Os filhos que teve morreram e sobreviveu somente uma menina frágil e enferma de nome Eleonor. Em 1576 escreve “Apologia de Raymond Sebond” sua obra mais comentada. Em 1578 recomeça a escrever o livro II dos Ensaios e em 1580 publica os dois primeiros livros. De 1581 a 1585 torna-se prefeito de Bordeaux e em 1586 a 1588 termina os Ensaios, encerrando o livro III.


Montaigne era um homem heterogêneo, pois ao mesmo tempo em que era inovador, era conservador e tentava atribuir ao homem as religiões como algo cultural e dizia que ele tinha que fazer parte da política. Foi muito elogiado por Montesquieu, Voltaire, Alfieri, Foscolo, Leopard, na Inglaterra por Shakespeare, nos Estados Unidos o ensaísta e poeta Ralph Waldo Emerson e criticado por Chateaubriand, suas principais influências ao longo de vários textos ele mesmo deixa claro que se encanta muito com os estóicos, com Cícero e Plutarco.


UMA BREVE INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE MONTAIGNE A PARTIR DE RAYMOND SEBOND

Montaigne (1533 – 1592) nos Ensaios livro II no capítulo XII intitulado: Apologia de Raymond Sebond, que ele fala que o que sabe deste é que foi um médico espanhol que vivera cerca de duzentos anos antes dele, Montaigne já à luz do modernismo afirma:

É em verdade a ciência coisa importante e útil. Os que a desprezam dão prova de estupidez. Não considero, entretanto, seu valor tão elevado quanto o imaginam alguns (...) que a encara como o soberano bem e lhe atribui o poder que não tem, a meu ver, de nos tornar sensatos e satisfeitos. (p.175)

Montaigne deixa claro que não é contra a ciência, mas, ela não é a salvação do mundo, nem tem o poder que imaginam os tantos “modernistas” que são contemporâneos a ele e nem os que estão porvir. Ele sempre deixou claro em alguns de seus escritos que admirava os “antigos” como: Sêneca, Lucrécio, Plutarco; sempre mostrou muito conhecimento acerca destes. Possuidor de uma grande biblioteca mostrava grande conhecimento cultural e intelectual. Por estar muito ligado com os “antigos”, ele ainda não estava totalmente inserido no pensamento moderno, ele tenta resgatar o brilhantismo da dúvida que os antigos tinham, pois, os modernos estavam preocupados, no tempo, com as respostas, e se perdiam na objetividade e pragmatismo extremo da ciência, crendo totalmente na empiria para tudo, esquecendo-se que as coisas no mundo sempre mudam e que nunca terá uma única resposta, invariável durante o tempo. Deste ponto ele mostra-se um pirrônico por acreditar que nunca encontramos as respostas aqui, muitos afirmam que Montaigne é um cético por não querer dar respostas e por saber que é difícil encontrá-las nesse método científico que a cada dia se renova.

O filósofo francês de Périgoux direciona críticas também a todos que querem explicar a fé (incluindo os cristãos de seu tempo) e fala que a fé não deve ser explicada porque os métodos humanos não são capazes. No mesmo Raymond Sebond ele faz a defesa da fé em Deus criticando os que tentam achar razões para isto fundando-se apenas em diâmetros humanos. Para ele não se pode explicar a fé nem Deus por métodos puramente humanos, pois são coisas que dependem da graça divina.

(...) os cristãos se enganam em querer sustentar com argumentos puramente humanos uma crença que só se concebe pela fé e por intervenção particular da graça divina. (p.177)

A ciência, Deus, a fé, os animais, todos estes assuntos são tratados nesse único e gigantesco capítulo (XII) dos Ensaios (livro II). Montaigne faz também uma defesa esplendorosa dos animais.

Essa falha que impede nossa comunicação recíproca tanto pode ser atribuída a nós como a eles, que consideramos inferiores. Está ainda por se estabelecer a quem cabe culpar de não nos entendermos, pois se não penetramos o pensamento dos animais, eles tampouco penetram os nossos e podem assim nos achar tão irracionais quanto nós os achamos. (p.187)

Para Montaigne os animais como nós possuem sentimentos e inteligência, o que nos diferencia é a comunicação. Expressamo-nos por voz, por gestos, por sutis movimentos, e os demais animais não se excluem destes modos. Assim como os homens há animais que se organizam em sociedade, que buscam o melhor habitat, e que fazem arte. Porque nos achamos superior só por não os entendermos? Diz Montaigne que a natureza deu a todos os animais as mesmas condições para que vivam. E entre as várias comparações citadas por Montaigne está essa:

Se choramos, também choram os animais. Há bem poucos que não fiquem a gemer e lamentar-se durante muito tempo ainda após o nascimento, o que é inerente ao seu estado de fraqueza. Quanto a alimentar-se, é coisa natural neles como em nós; não há como ensiná-la, pois ‘todo animal sabe de suas forças e necessidades’. Atingida a idade em que o peito já não lhe basta, a criança pede comida. E a terra produz espontaneamente, e oferece ao homem, em quantidade suficiente, o que necessita para sua alimentação, sem que seja preciso cultivo ou preparação. Nem sempre, é certo; mas os animais como nós – comprovam-no as formigas – sabem fazer provisões para as estações estéreis do ano. (p.190)


DE COMO FILOSOFAR É APRENDER A MORRER

Essa obra está composta no livro I no qual Montaigne acaba acrescentando, pois escreve no mesmo período em que ele se encontra doente e espera pela morte. A obra faz uma comparação entre a morte e a filosofia, onde para Montaigne filosofar é o mesmo que contemplar, tirando a alma para fora do corpo, assim como a morte.

Montaigne também aborda sobre o prazer colocando como algo a ser buscado, mas os meios utilizados para busca desse prazer são as angústias. Michel escreve que o homem não pensa na morte como algo comum de sua existência e comenta do medo dos homens em falar sobre esse assunto.

O autor ao longo do texto faz várias reflexões, tanto da morte e de como o homem lidar com essa situação, sobre como a filosofia pode ser um modo de reflexão sobre a morte, também reflete sobre o prazer e como o homem tenta se enganar colocando o prazer como algo explicativo para a sua existência e esquece da morte.

Esse texto abordado por Michel de Montaigne se torna importante por falar sobre o momento vivido por ele que é a espera da morte e como ele produz o texto não contendo metodologias, a obra também é interessante, pois esta obra se diferencia das outras por abordar um conteúdo de acordo com o título, deixando sempre perguntas para que o leitor possa refletir sobre o assunto colocando sua opinião no texto e dando exemplos do cotidiano.

Na conclusão do texto Montaigne mostra que a morte ou a espera dela nos muda e que a algo imprescindível e que concomitantemente que nos muda nos torna iguais a todos, pois todos terão esse mesmo fim.

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Trabalho apresentado à Doutora Mª Terezinha de Castro Callado, pelos alunos da graduação de filosofia da UECE Fernando Luiz Duarte Jr e Kedna Adriele Timbó, afim de nota para a disciplina de História da Filosofia III.

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