terça-feira, 9 de março de 2010

Um desafio à arte de pensar na brincadeira infantil.


Paulo Victor de Albuquerque Silva

Graduando em Filosofia UECE


Resumo: A produção de brinquedos teve seu início dentro de oficinas de entalhadores de madeira e de fundidores de estanho. Sendo sua grande parte concentrada no continente europeu, e tendo a Alemanha como seu grande centro espiritual, a partir do século XVIII inicia-se a fabricação de brinquedos, originados dentro de grandes fábricas especializadas em tal produção. Com a divisão do trabalho no universo capitalista e a produção em massa, aparecem nas prateleiras das lojas diversos brinquedos saturados de suor humano e de valor de troca. No lugar da fabricação artesanal, que mantém a relação do adulto com a criança, já que os adultos fornecem os brinquedos ao público infantil, agora os fornecedores são as grandes fábricas burguesas. Com a expansão do processo industrial o brinquedo se desvencilha do controle familiar, tornando-se estranho aos pais e até mesmo às crianças. Muitos, especialmente os pedagogos, acreditavam que a criação dos brinquedos se gera a partir das necessidades infantis, enquanto os fabricantes observam as crianças como sendo apenas consumidores em potência. Na realidade as crianças são os criadores originais transformando qualquer material disponível em um brinquedo. Todas estas questões foram trabalhadas no livro de Karl Gröber, “Brinquedos infantis dos velhos tempos - Uma história do brinquedo”, de 1928. Esse pensamento é avaliado pelo filósofo alemão, Walter Benjamin, em seus dois textos intitulados: “História cultura do brinquedo”, e “Brinquedo e brincadeira, observações sobre uma obra monumental”, que levaram este pensador a considerar a importância da brincadeira como sendo responsável pela comunicação criança-mundo e ela própria co-autora da criação. A mente infantil transforma a relação brinquedo e brincadeira. Enquanto construção de uma expressão em que o mundo é visto pela primeira vez a brincadeira e não o brinquedo interage com o meio sócio-cultural. Enquanto o brinquedo fabricado tem sua especificidade no know how a serviço da lógica econômica, muitas vezes tirânica, a brincadeira revoluciona o mundo. A utilização pela criança de materiais residuais, destroços, restos, fragmentos, oferece uma nova óptica, desvela uma nova mentalidade, introduz outra percepção sobre a arte da criação que dispensa as elocubrações dos pedagogos quanto à adequação do brinquedo à criança. A criança prefere a brincadeira ao brinquedo, por ser esta aberta a mil possibilidades e aquele, artefato concluído, onde não há espaço para o ato de pensar. A brincadeira é a corda que faz o pião girar, ou que confere à pipa permanecer no ar, sendo ela que possibilita o surgimento dos hábitos humanos, estimulando, na faculdade mimética, o sentido onto-genético, através do desejo infantil de ir adiante, repetindo sempre de novo a brincadeira.


Palavras-chave: BRINQUEDO. CRIANÇA. BRINCADEIRA.

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