quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Gianni Vattimo

João Paulo de Oliveira

Uma das orientações filosóficas mais expressivas que se destaca na sociedade contemporânea é a hermenêutica, compreendida em linhas gerais como teoria da interpretação, que propõe uma compreensão global e crítica da sociedade, da cultura e dos fenômenos sobrejacentes à experiência humana. Entre os autores mais significativos dessa leitura está Gianni Vattimo que pensa a atualidade estética em contraposição ao estatuto estético clássico difundido na modernidade. Sua preocupação é com a compreensão das novas condições de existência no mundo industrial tardio. Para tanto, estabelece um diálogo com várias correntes filosóficas defendendo ter o contexto cultural contemporâneo uma chance para uma nova interpretação da sociedade em que o ser humano possa ter uma experiência diferente da existência. Esta nova possibilidade surge com o título de pós-modernidade.

A proposta de Vattimo apresenta-nos importantes elementos para se compreender a situação da sociedade atual. Para Vattimo é preciso lidar com os acontecimentos nos seus mais variados aspectos: cultural, religioso, social, político, artístico, ético etc. Ele afirma o fim da modernidade e o início de um outro tempo caracterizado fundamentalmente pelo fim da metafísica. Sua proposta busca compreender o que se convencionou chamar cultura pós-moderna e suas implicações na experiência humana, retomando abordagens de Friedrich Nietzsche (Röcken, 15 de Outubro de 1844Weimar, 25 de Agosto de 1900) e Martin Heidegger (Meßkirch, 26 de Setembro de 1889Friburgo, 26 de Maio de 1976), apresentando entre outros temas, uma reflexão sobre o nihilismo e a crise da metafísica tradicional, “Trata-se, antes de mais nada (...) de se abrir para uma concepção não-metafísica da verdade, (...)”. ¹

O ponto de partida para a reflexão estética vattiminiana é a crítica de Heidegger à Estética, a crítica ao subjetivismo moderno. De que modo a estética moderna não diz nada sobre a “verdade da arte” e sua “essência”. A Estética não vem considerada mais como um discurso do “belo artístico”, nem como a teoria do conhecimento sensível perfeito, das faculdades pré-reflexivas, mas é uma crítica do que se convencionou chamar filosofia da arte, vista como uma patologia estética. Falar de estética para Vattimo não significa a defesa da estética tradicional: não significa perguntar pelo estatuto da estética como saber particular. É preciso se questionar o modo tradicional como a Estética determinou certas disposições relativas ao sujeito. A arte, que era anteriormente a reflexão central dos estetas tradicionais, passa a ser absorvida pela técnica. Não há mais um lugar específico - no sentido da experiência tradicional -, da arte.
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1- VATTIMO, Gianni. O fim da modernidade. P. VXIII.

Para Vattimo há fragmentações dos valores estéticos, prelúdio de um mundo não metafísico, sem categorias fixas “facilitadoras” da reflexão sobre a realidade. Portanto, uma vez diminuído o supra-sensível da metafísica (aquilo da ordem fundamental da essência), o que resta senão o sensível da Estética? O primado da estética contemporânea tem sentido frágil justamente por implicar uma idéia frágil de Ser pensado sempre como acontecimento. É impossível pensar essa atualidade sem uma experiência estética. O que se anuncia como “verdade” nessa época é a Estética. O primado frágil da Estética não trata de um discurso de sua justificação da como uma ciência autônoma e particular, pois o que Vattimo propõe é ultrapassar o discurso da Estética como disciplina filosófica. A “estética frágil” identifica-se com certos acontecimentos da experiência histórico-cultural contemporânea.

Pensar o fundamento é ainda uma exigência do saber tradicional que caracterizou o discurso da Estética clássica. O exame das relações sociais constata a precariedade da vida produzida em relação a determinados rumos tomados pela civilização tecnológica ocidental. Hoje esse discurso se configura como um discurso estético, que não é mais apenas um discurso sobre o belo artístico e as belas artes. Não há mais como se falar de uma experiência estética desvinculada das demais experiências, pois é um fenômeno que quebra põe em questão toda a noção de racionalidade. A atenção volta-se as faculdades pré-reflexivas como constituidoras de sentido, afinal, não há como negar que a experiência humana em geral apresenta uma experiência da verdade desvinculada daquela verdade concebida metodologicamente pelo saber científico.

A experiência estética não está mais limitada aos críticos de Arte nem aos problemas da Arte, mas está se posicionando como algo que se reporta às influências da indústria cultural. Ela se põe como possibilidade crítica dos objetos, ou da cultura produzida pela tecnologia da indústria cultural. A nova experiência estética proporcionada pela tecnologia e a difusão acelerada dos meios de comunicação em massa busca se introduzir em um universo que seria inacessível a uma reflexão racional moderna que poderia não identificar aquilo que se esconde no tecido social, na vida cotidiana dos indivíduos e que se perderia de vista em razão de uma dada concepção de racionalidade.

Vattimo em obras como O fim da modernidade: Niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna e A sociedade transparente mostra-nos que a Estética tradicional é incapaz de compreender a experiência estética nos rumos tomados nos séculos XX e XXI. Não existe mais esse lugar específico da Arte reconhecido antes pela experiência estética tradicional.

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